SAUDOSAS MUTAÇÕES ULTRAMARINAS

Já tenho visto faduxos ao vivo e tal, mas a última vez que me lembro de tar num big happening do género foi praí quando o Pietra ainda não tinha perdido o lugar pró Veloso, e foi nas instalações hoje desaparecidas dos "Olhanenses", a mítica filial do Blenences em Olheum.

Foi giro, eu nesse tempo acho que tinha sandálias de fivela, não gostava, mas era o tempo em que provavelmente inda nem sabia o que eram umas adidas vaca ou umas melga nike, tinha de vestir e calçar o que me davam, resmungasse muito ou pouco. Os papás estavam naquelas cadeiras e mesas de ferro, enquanto isso os putos brincavam ao lado, numa zona lateral, com piso de brita mesmo lixada pra um gajo cair e rasgar joelhos a jogar à chita à apanhada ou a esconder ou à trôxa lavada real caralhada, que era onde metiam as tabelas de basquéte quando havia "variedades" (outros preferem corridas de calças em baixo no jardim velho, mas a minha infância foi outra).

Os putos... sim, os putos. Esse memorável concerto foi, exactamente, do grande Carlos do Carmo. Eu tava a brincar com os outros putos ali ao lado e precisávamos de encontrar um amigo que se chamava... Carlos. Nem mais, eu - e acho que mais 2 ou 3 - lá passámos mesmo em frente ao palco, entre o público (imaginem gente provavelmente ainda a ressacar do PREC) e o Carlos do Carmo, e nós aos gritos "Carlos, Carlos" para ver se localizávamos o nosso amigo. Deve ter sido bonito de se ver, nem me lembro bem disso, só me recordo no final da coisa os paizinhos todos lixados com os putos que tinham passado em frente ao Carlos, enquanto ele cantava, e a chamar por ele, como se não o estivessem a ver.

Per cá de quem é que malembrei disto? Porque o ATEU lá voltou a ser amigue, e arranjou uns convites prá malta ir ver a Mariza no Largo da Sé, e o evento despoletou esta recordação semi-recalcada (isso e o grito de guerra "silêncio que se vai cantar o fado" que nunca teve tanto sentido como nessa ocasião). Curiosamente a Mariza cantou uma música do Carlos e houve pra lá uma interrupção dum tóino colquer que, isso sim, reavivou-me na alembradura ainda mais a minha história entiga com o fado ao vivo. E com o Carlos.

Mas não valeu só por isso, descobri que a Mariza é moçambicana. Sendo que o Abel Xavier também é, eu já devia ter desconfiado. Mas as minhas associações mentais já não são o que eram.