BARRIGADA DE RISO AO ESPELHO
"Vi o jogo Portugal-Espanha num restaurante da capital, acompanhado por alguns vadios nas mesas em volta.
Digo ‘vadios’ no sentido técnico do termo: portugueses que empurram os dias com a barriga e, quando a hora do expediente termina, instalam-se em frente à televisão e desatam a exigir que a Selecção seja campeã do mundo. Curioso: nenhum deles exige de si próprio certas virtudes ganhadoras nos respectivos ofícios. Nenhum deles é dado à produtividade, ao gosto pelo risco, ao desejo de vencer. Sem falar de coisas menores, ou maiores, como a pontualidade e a assiduidade. Por isso transferem para a Selecção o que não têm e não querem.
Infelizmente, a Selecção Nacional não nasceu do vazio. Na forma preguiçosa como arrastou os pés pela África da Sul e na confrangedora ausência de vontade ganhadora, a rapaziada foi, sem ironia, a mais perfeita representante da ética lusitana e do Portugal contemporâneo. Por isso os portugueses se revoltaram contra a sua Selecção na hora do adeus. Inevitável. Ninguém gosta de se olhar ao espelho e ver aquilo que é."
E antes do jogo ele tinha escrito isto:
"Que se passa com a Selecção? Escrevi na passada semana que a rapaziada se ia deslumbrar com a goleada à Coreia. Errei. No jogo contra o Brasil, vi o que nunca pensei ser possível: a ‘italianização’ do futebol português.
No passado, a equipa jogava muito bem ou muito mal. De qualquer forma, nunca ganhava coisa que se visse. Éramos uns amadores. Como certas mulheres de má fama, tínhamos orgasmos em pleno acto.
Agora, o jogo é mediano e entediante. Mas a manha é monstruosa. Típica de profissionais. Aquilo não é uma equipa; é um bando de carteiristas a operar nas ruas de Nápoles: vamos andando e vamos medindo, a olho, a distracção dos turistas. Se der para rapar uma carteira, óptimo; se não der, melhor não arriscar.
E contra Espanha? Não espero milagres. Espero uma equipa encostada cá atrás, de palito na boca, à espera daquele momento em que um espanhol se converte num otário. E eles convertem-se sempre. A nossa história, aliás, prova-o: o que é Portugal, senão um roubo a Castela?"
Brilhante.
Digo ‘vadios’ no sentido técnico do termo: portugueses que empurram os dias com a barriga e, quando a hora do expediente termina, instalam-se em frente à televisão e desatam a exigir que a Selecção seja campeã do mundo. Curioso: nenhum deles exige de si próprio certas virtudes ganhadoras nos respectivos ofícios. Nenhum deles é dado à produtividade, ao gosto pelo risco, ao desejo de vencer. Sem falar de coisas menores, ou maiores, como a pontualidade e a assiduidade. Por isso transferem para a Selecção o que não têm e não querem.
Infelizmente, a Selecção Nacional não nasceu do vazio. Na forma preguiçosa como arrastou os pés pela África da Sul e na confrangedora ausência de vontade ganhadora, a rapaziada foi, sem ironia, a mais perfeita representante da ética lusitana e do Portugal contemporâneo. Por isso os portugueses se revoltaram contra a sua Selecção na hora do adeus. Inevitável. Ninguém gosta de se olhar ao espelho e ver aquilo que é."
E antes do jogo ele tinha escrito isto:
"Que se passa com a Selecção? Escrevi na passada semana que a rapaziada se ia deslumbrar com a goleada à Coreia. Errei. No jogo contra o Brasil, vi o que nunca pensei ser possível: a ‘italianização’ do futebol português.
No passado, a equipa jogava muito bem ou muito mal. De qualquer forma, nunca ganhava coisa que se visse. Éramos uns amadores. Como certas mulheres de má fama, tínhamos orgasmos em pleno acto.
Agora, o jogo é mediano e entediante. Mas a manha é monstruosa. Típica de profissionais. Aquilo não é uma equipa; é um bando de carteiristas a operar nas ruas de Nápoles: vamos andando e vamos medindo, a olho, a distracção dos turistas. Se der para rapar uma carteira, óptimo; se não der, melhor não arriscar.
E contra Espanha? Não espero milagres. Espero uma equipa encostada cá atrás, de palito na boca, à espera daquele momento em que um espanhol se converte num otário. E eles convertem-se sempre. A nossa história, aliás, prova-o: o que é Portugal, senão um roubo a Castela?"
Brilhante.
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