OCTÁVIO SOBRE PÔNCIO
"Nestas alturas, quando as equipas ganham, nunca faltam amigos, conselheiros, colaboradores, todos querem aparecer. Em tempo de borrasca, na tormenta, ninguém lhes punha os olhos em cima. Em tempo de bonança, era vê-los, pressurosos e diligentes, a dar ordens, esmerando-se por mostrar serviço. Casos do Wilson Brasil ou do Pôncio Monteiro, este último um eterno candidato à presidência do FC Porto, mas que foi sempre gozado pelo Pinto da Costa. Periodicamente, o Pinto da Costa diz que não se recandidata, o que faz com que os vice-presidentes, entre eles o Pôncio Monteiro, se vão digladiando para ver quem ganha posição. Depois de assistir, com visível gozo, a este espectáculo, o Pinto da Costa anuncia a recandidatura, obrigando assim os vice-presidentes a fazer marcha-atrás. O Pôncio Monteiro foi sempre uma pessoa incomodada, muito incomodada, em determinada altura até ciúmes dos vencimentos do Artur Jorge tinha, porque ele era o tesoureiro e sabia quanto é que o treinador ganhava. Noutra altura, ainda com Pedroto a treinador, teve a infeliz ideia de se incompatibilizar com um preparador físico do FC Porto, chamado João Mota: foi dizer ao Pinto da Costa que só continuaria como membro da direcção se o João Mota fosse embora. O Pinto da Costa foi ter com o Sr. Pedroto e disse-lhe o que se estava a passar. E Pedroto respondeu-lhe: "Já está tratado. Vai o Pôncio Monteiro embora." E o Pôncio Monteiro foi corrido das Antas. Nas entrevistas que dava, o Pôncio Monteiro referia-se ao presidente do FC Porto como o Sr. Costa. É óbvio que depois, com o passar do tempo, com o sucesso do FC Porto, o Pôncio foi alimentando, cada vez mais, a ambição de ser ele o próximo presidente do FC Porto. (...) Num dos programas ('Os Donos da Bola', transmitido pela SIC), em que o Pôncio Monteiro era o convidado, aconteceu algo que me fez perder as estribeiras. Sempre que eu dizia alguma coisa e que comentava os casos que a SIC tinha em cima da mesa, os árbitros, as viagens, a corrupção, etc., o Pôncio Monteiro lançava suspeitas quanto à veracidade das minhas afirmações, criava sombras à volta do que eu dizia, por outras palavras, insinuava que eu estava a mentir. Ao Pôncio Monteiro eu não podia admitir aquilo. Como aliás não admito a ninguém. Porque eu estive por dentro, vivi muitas daquelas situações de que se estava a falar, eles não. Eu falava com conhecimento de causa e nenhum interesse me movia naquilo que dizia. Nenhum! Aguentei as colheradas depreciativas do Pôncio durante algum tempo, até que a mostarda me chegou ao nariz. Tinha de deitar cá para fora a revolta que me ia na alma. Num dos intervalos do programa, interpelei-o de forma muito dura. Lembrei-lhe um episódio da vida dele. O Pôncio Monteiro, muitos anos antes, depois de um acidente grave, esteve às portas da morte, para sobreviver tinham de fazer-lhe uma transfusão de sangue. O João Mota, do FC Porto, quando soube disso, prestou-se de imediato a ir dar sangue ao hospital. Mais tarde, o Pôncio perseguiu o João Mota dentro do FC Porto, exigiu a sua saída do clube, isto na altura em que o Pedroto era treinador. O Pôncio disse que ou saía o Mota ou saía ele. Foi aí, como contei antes, que Pedroto disse que, sendo assim, estava tudo resolvido, saía o Pôncio. Uma pessoa que faz isto, que depois de ter sido salva com o sangue do outro, o persegue, o quer despedir do trabalho, é alguém que perde toda a autoridade moral para dizer seja o que for. Uma pessoa que é capaz de comportamentos como aquele merece todas as reservas. Agarrei-o pelo braço e disse-lhe à queima-roupa: "Tu não prestas, tu foste capaz de perseguir uma pessoa que te ajudou da maneira que sabemos, portanto está calado, não digas nada. Olha para mim, olhos nos olhos. Tu nem profissão tens, a tua profissão é ser filho de quem és, o teu pai, sim, é um senhor, um gentleman." Atrapalhado, o Pôncio calou-se, ficou com falta de ar. O Schnitzer, ao assistir àquilo, disse-me: "Octávio, ainda matas o homem." "Mato o homem?!", perguntei eu, "mas qual homem?! Isto é um cobarde."
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