FALA QUEM SABE... MESMO

Portugal decepcionou e os analistas perguntarão quais as razões do fiasco. Como o futebol é um território de exageros, não descarto que se produza com Cristiano Ronaldo um episódio parecido ao de Messi na Argentina, o único lugar do mundo onde o questionam. Não há muito tempo, recebi uma chamada de um jornalista de Buenos Aires, condutor de um conhecido programa de rádio. "Aqui dizemos", comentou comigo, "que Messi apanha um avião em Barcelona e em Buenos Aires aparece o irmão de Messi". O seu humor pareceu-me tão grosseiro que desliguei o telefone.

Quando uma equipa joga mal suspeita-se principalmente do melhor jogador. A Messi atribuiu-se toda a responsabilidade do jogo medíocre da Argentina nos últimos anos, quando a análise deveria ser feita ao contrário: porque é que a equipa se empenha em desaproveitar um jogador excepcional. A polémica já ultrapassou há muito o limite do prudente e não são poucas as vozes que se referem a Messi como um futebolista sobrevalorizado. Essas vozes esquecem que os grandes do futebol também necessitam das condições básicas para poder marcar a diferença.

Ainda que improvável, a situação de Messi pode repetir-se em Portugal com Cristiano Ronaldo. A equipa fracassou no Europeu, sofreu na fase de qualificação para o Mundial e a sua estrela não marca um golo nos últimos 16 meses. Já temos, portanto, uma resposta simples para um assunto complexo: o responsável é Ronaldo. Não!, o problema é uma equipa sem estrutura, incoerente, com uma incapacidade alarmante para gerar algo a que se possa chamar jogo.

Portugal não sabe o que está em jogo. Deco é um problema que ninguém quer resolver. Do meio-campo não há rasto. Não há harmonia, convicção, fluidez. Nessas condições, Ronaldo está abandonado à sua sorte. Sente-se obrigado a resolver os jogos em cada lance. É um erro dele, mas o defeito vem de trás: traduz-se por uma equipa desfigurada.