FALA QUEM SABE

E quem no mundial2002 estava a levar 3-0 dos EUA à meia hora de jogo. Também gostei de ver ele no prós e contras a teorizar sobre a importância de locais de estágio e isso. Não há mesmo vergonha neste país, não é?

"Imaginemos dois pugilistas em pleno combate. Um deles sente medo no outro. Que deve fazer? Atacar, claro! Só que isso implica coragem e risco. Quem quer ganhar não pode ter medo de perder...

A Seleção não se sentiu suficientemente segura para dar esse passo. Acredito que ainda possamos fazer uma campanha brilhante, mas não iremos mais longe se não sairmos desta angustiante indecisão.

Nos momentos decisivos, Portugal tem sempre reservas em assumir-se como melhor. Porém, não é por acaso que ocupa o 3.º lugar do ranking mundial. E se a posição reflete o valor, então há que ter vontade de provar que se é merecedor desse estatuto. Não há razão para termos medo de ninguém, mas é preciso assumir o risco.

O jogo de estreia no Mundial não foi diferente de muitos outros. Fomos uma equipa de contenção e que ficou à espera de Ronaldo. Isto é, esperámos que ele resolvesse as coisas pela direita, pela esquerda ou pelo meio. Qualquer dia, ainda vamos ficar à espera que Ronaldo marque um livre ou um canto e vá, a correr, para a área cabecear a bola e fazer o golo. É só mesmo o que falta.

Ronaldo tem de estar lá na frente, o mais perto possível da baliza. Sobrecarregá-lo com outras tarefas é reduzir-lhe as enormes possibilidades de ter êxito graças ao seu imenso talento e remate espontâneo.

Com pouco tempo de trabalho à frente da seleção, Eriksson conferiu-lhe organização. É verdade que os marfinenses encurtaram linhas e defenderam bem, tirando partido dos seus atributos físicos. Mas esperávamos que fosse diferente? Não será também assim (e de forma ainda mais acentuada) que a Coreia do Norte irá jogar? Convenhamos, foi por culpa própria que não conseguimos mais.

Para ganhar não basta ter a bola. É preciso subir no terreno e ter posse em zonas adiantadas. É aí que até os nossos centrais podem ser desequilibradores (como o são nas suas equipas), com o envolvimento dos laterais e uma dinâmica de jogo menos dependente da capacidade de "alimentação" de Deco ou dos lampejos de Ronaldo.

Depois de ver o Brasil-Coreia do Norte, fica o alerta máximo: não podemos facilitar.O código genético dos coreanos identifica-se assim: correm os 90 minutos e querem dar uma alegria ao "grande líder".

Lanço apenas mais uma inquietação. Ruben Amorim - cujas qualidades admiro - esteve quase um mês de férias, apareceu nas vésperas da prova e... entrou logo no primeiro jogo. Pergunto: como vão reagir aqueles que esperavam ser alternativa a Raul Meireles? Ora aqui está um teste à unidade e coesão do grupo"