A FÉ DE RUI MOREIRA
“Obviamente, o João pode ser o João não podia ter sido nomeado para este jogo”
Rui Moreira, A Bola, 13 de Agosto de 2010
Embora quase ninguém tenha dado por isso, há cerca de dois meses foi cometido um crime nestas mesmas páginas. Não é segredo para ninguém que a divulgação do conteúdo das escutas é proibida. Ora, quando usou a expressão o João pode ser o João, Rui Moreira estava, como se sabe, a citar propositadamente uma escuta em que intervém o presidente do Benfica, publicitando o seu conteúdo. Trata-se de um comportamento completamente inaceitável e extremamente pidesco. E vice-versa. Pela minha parte, devo dizer que não participo em autos de fé, e não posso continuar a colaborar passivamente num jornal que se transforma num auto de fé. Não tenho, por isso, outra alternativa senão abandonar esta crónica durante dois parágrafos.
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Creio que a minha posição ficou clara, e espero que esta atitude simbólica contribua para moralizar o debate futebolístico e o próprio mundo em geral. Lamento ter chegado a este ponto, mas o caso é mais grave do que parece: Rui Moreira é reincidente neste tipo de conduta vergonhosa. No dia 26 de Fevereiro de 2010, o jornal i colocou a várias personalidades a seguinte pergunta: Depois dos episódios recentes relacionados com as escutas e o caso Face Oculta, mantém a confiança no primeiro-ministro? A resposta de Rui Moreira foi: «O primeiro-ministro tem que ser um factor de confiança perante o exterior e agora acho que passou a ser um factor de desconfiança perante o exterior». Sei que o leitor está tão chocado como eu. Rui Moreira não faz qualquer comparação entre a Santa Inquisição e as escutas (que todos os historiadores acham parecidíssimas), não condena os bandidos que as publicaram, nem se demarca da porcaria, da canalhice e da insídia. Não só conhece as escutas como as comenta, tendo mesmo o descaramento de tirar conclusões com base no seu conteúdo. Repugnante. Quando é que esta gente compreende que, nisto das escutas, tudo é indigno (menos o que lá é dito)?
(...)"
(quase tão delicioso é também no mesmo jornal ver uma página inteira de opinião do Ernesto companheiro de palco do JEB na noite das maracas a dizer que basta isto e aquilo, que JEB na RTP respondeu a tudo como só pode alguém com as mãos limpas e depois... noutra página tá o JEB em amena cavaqueira sorridente com o Papa!)