Faz hoje 15 anos.
Não ligava nada à bola antes desse Verão de 90 - quando completei oito anos. O Farense tinha ido à final da Taça de Portugal, jogava com o Est. Amadora e eu não sabia de nada: não fui e perdi um momento histórico. Nem sequer me lembro de memórias televisivas. É um dos meus lamentos. Só me lembro, um pouco antes, de perguntar ao meu pai, quando li uma vez no jornal, o que era o Fafe (presumo do Rachão), que nessa altura deve ter participado na I Divisão.
O Mundial'90 foi a descoberta do fabuloso mundo do futebol. Era o fantástico Roger Milla, o Bell, o Higuita. Era o Maradona, o Skuhravy, o Burruchaga. Era o Matthaus, o Moller, o Illgner. Era o Toto Schilacci. Era a Checoslováquia. Era a Jugoslávia - do Ivkovic e do Stoijkovic. Era o Egipto e a Irlanda dos guardiões Shoubeir e Bonner. Era a Holanda. Era tudo. Era o princípio.
Caraças, dei por mim a ler A Bola e a ver na RTP a bola. Que raio. Afinal, descobri pouco tempo depois que tínhamos um clube na cidade entre os "grandes". Caraças, pai, levas-me ao jogo? - foi a primeira pergunta. Era o meu primeiro jogo.
18 de Novembro de 1990. Faz hoje 15 anos. Há 15 anos, descobri a bola como ela deve ser. Era um Farense-FCP. Estádio cheio, emoção a rodos. O meu pai levou-me ao estádio, conseguiu que eu entrasse e deixou-me sozinho - foi para o carro ler a "História". E eu, que fiz? Observei. Era uma emoção do caraças. Um jogo de bola ao vivo, o primeiro.
E os Farense-FCP, no São Luís, sempre foram mexidos. Este não fugiu à regra - foi o mais mexido. Jogo emotivo, 0-0 aos 90'. Um minutos depois, Sepa Santos, o "bolinha" (termo carinhoso aplicado pelo melga numa conversa que já tivemos sobre a data), marca penálti contra o Farense. Aprendi com os outros e comecei a chamar nomes ao árbitro. Estava ali na bancada central, que porra! Paulo Pereira, o central, marca: é o 0-1. Acaba o jogo.
Vou-me embora logo. Passo por onde? Pelo banco do FCP: estão lá Pinto da Costa, Hernâni, Octávio, Artur Jorge (agora, sei quem são; então desconhecia a sua identidade...). Olho para cima: vejo garrafas de água a voar, vejo milhares de objectos a voar, vejo aqueles senhores a correr, vejo os da casa a gritar, a insultar, a "mimar" os outros com os nomes que eu nunca sonharia gritar na altura. Vejo o futebol a sério. Corro para fora, só penso em livrar-me da confusão.
Chego ao carro, o meu pai continua a ler a "História". Eu estive lá, o meu pai passou ao lado. Ouço no carro mais detalhes, chego a casa vejo na TV a polémica, o autocarro, as pedras, a confusão. Ficou para a história. Foi o meu primeiro jogo.
Faz hoje 15 anos.